terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Poucas Palavras


Esse blog tem tirado férias. Como as de meu marido, em novembro, elas passaram rápido. Já caminhamos para o término de um ano cujas mudanças foram as mais drásticas da minha vida. Muito aprendi, mas muitas das percepções que tenho sobre os seres humanos foram corroboradas. Reafirmaram-se os aspectos de competição, inveja e não-cumplicidade que já compreendia ser inerente a nossa sociedade. A ajuda sempre vem preenchida de prepotência, o cuidar, de interesse, as palavras, de inverdades e críticas e assim caminha a humanidade.

Quando adolescente, confesso não ter sido a mais socializável, entendia que ficar reservada seria uma maneira de fugir da confusão que são as relações humanas. Hoje, essa idéia retorna. Decidi sair um pouco do ambiente da internet, pois pouco tem agregado na minha vida, exceto automatizar minhas relações. Sinto-me distante dos meus mais queridos amigos, ao mesmo tempo, tenho notícias impessoais deles. Dedico tempo a formalidades tendo meu marido, filha e família. Fecho um ciclo.

Ontem consegui, finalmente, assistir Morangos Silvestres. Bergman sempre foi um dos diretores que mais admirei, principalmente pela elaboração de roteiros de tanta densidade e simbologia. Prof. Borg, um médico de 78 anos, a caminho de sua homenagem pela vida acadêmica, põe em xeque toda a sua existência enquanto sonha sobre sua morte. No caminho, descobre a frieza com a qual tratou as pessoas durante toda a vida e busca a redenção em seus últimos momentos.

Não quero descobrir tarde estar priorizando coisas erradas, pessoas erradas... Continuarei escrevendo aqui esporadicamente, dando notícias sobre a pequerrucha que mais amo. No entanto, reservo-me o direito de me reservar e criar a minha pequenina como acredito ser o melhor para ela e não para os outros. Mesmo que nós, eu e ela, façamos parte de uma minoria.

Um abraço,

Suellen

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Leite em pó e os pediatras da Nestlé

Num mundo governado pelo capital, não é de se surpreender que a alimentação dos nossos filhos se torne mercadoria. Pior ainda quando se tratada alimentação de um bebê.

Na década de 1920, a Nestlé chega ao Brasil. A farinha láctea, responsável pela criação da empresa, já era importada antes da instalação da primeira fábrica da Nestlé no estado de São Paulo, a qual se destinava a produção do Leite Moça. Em 1929 e 1931, respectivamente, surgiram o Lactogeno e o Nestogeno, leites em pó para consumidores mirins, desde o nascimento.

Em artigo consultado, cuja discussão evidencia a importância dos almanaques nos aspectos culturais da sociedade brasileira, cita-se : A propaganda do Almanaque Nestlé (1940, p. 13) oferecia o leite industrializado desde os primeiros dias de vida da criança: "Lactogeno é um leite em pó preparado pela Nestlé, de composição semelhante à do leite materno, e especialmente indicado para a alimentação dos bebês, desde os primeiros dias. Leite em Pó LACTOGENO faz crianças fortes e alegres".”

Cabe ressaltar que no inicio do século XX os brasileiros passavam por um processo de modernização crescente ligado ao incremento industrial. Portanto, aspectos culturais foram se modificando, entre eles o aleitamento materno. A citada industrialização e a progressiva inserção das mulheres no mercado de trabalho foram responsáveis pela demanda, e também por maior propaganda, de leites artificiais.

O aumento da oferta dos leites industrializados no Brasil, a partir da década de 1930, produziu mudanças nos discursos médicos relacionados à amamentação. Segundo Almeida (1999, p. 39), a corporação médica, aos poucos, deixou de condenar o desmame para, subliminarmente, estimular a alimentação artificial com a mamadeira.” Logo, o chamado “biberon”, de origem francesa, e o leite em pó se tornaram sinônimos de modernidade.

Desde então a Nestlé apresenta discursos em prol dos pediatras, como na campanha de 2009 que mencionei no post anterior, e também em prol da construção de uma nação de crianças bem alimentadas, calmas, equilibradas, com bons hábitos de saúde e educação.

Assim como o parto cesariano tem sido indicado deliberadamente para mulheres que poderiam passar por trabalho de parto normal, os médicos cada vez mais induzem as mães a “complementar” a alimentação de seus bebês com leite em pó. Para recém nascidos que não atingem a curva média de crescimento, mães com dificuldades na amamentação, até outros problemas de alergia alimentar (como foi o caso com a Liv) ou não dormir a noite, leite artificial tem sido a resposta.

Pausa: gostaria de deixar esclarecido que não sou contra as mães que dão mamadeira de leite em pó para seus bebês. Fico, sim, muito revoltada com médicos que, sem motivos substanciosos, empurram o NAN ou qualquer outro para essas mães, levando-as crer que seu leite é fraco ou que não sabem amamentar.

A verdade é que todos esses problemas seriam resolvidos se os profissionais estivessem comprometidos com o bem estar da mãe e do bebê e dispostos a, de fato, ajudar ambos. Quero também lembrar que amamentar não é um ato fácil como se apregoa por aí. É preciso paciência e toda a orientação possível. Sem isso, está fadada ao fracasso. Por exemplo: o bebê deve esvaziar uma mama, antes de oferecer-lhe a outra. O leite tem duas fases: uma mais aquosa, cuja função é hidratação, e uma mais gordurosa, para a engorda do rebento. Se você seguir a orientação dada por alguns médicos de cronometrar no relógio X minutos no peito direito, X no esquerdo, seu bebê pode ficar sem receber a parte mais calórica do leite. Logo, ele poderá engordar menos. Obviamente, ele precisará de complemento na opinião desse mesmo médico.

Pediatras agradecem bebês bem gordinhos em seus consultórios; sinônimo de que é um médico muito bom...

Não sou fundamentalista. Existem casos e casos. Mas a resposta para todos os casos não é o leite artificial. Acredito, sim, que as relações baseadas na hipocrisia e no dinheiro podem comprometer a nossa saúde e a dos nossos filhos.

Um abraço,

Suellen

Artigo: A infância nos almanaques: nacionalismo, saúde e educação (Brasil 1920-1940)

Site: História da Nestlé

Blog Mamadeira Nunca Mais

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Fim da Tormenta?


Há algum tempo não venho com notícias neste blog. Parece que, mesmo negada por alguns especialistas, passei pela crise dos 3 meses com a pequena Livia. Isso porque, na semana em que completou os exatos 3 meses, as coisas desandaram de um jeito que todas as explicações buscadas não davam conta de melhorar a situação.

Tudo começou com noites mal dormidas. De dia era uma irritação só. O choro se tornou constante. O pediatra acreditou que se tratava de fome e passou complementação (leite materno ou NAN na mamadeira). Ok, ela não queria... Depois de uma semana, quando tudo parecia ter voltado ao normal, estávamos no mesmo pé.

Decidi procurar outro médico, afim de sanar as dúvidas e entender porque alguns sintomas tinham sido ignorados pelo anterior: sangue e muco nas fezes, as quais vinham em excesso depois das mamadas. Esses, disse ele, são fatores cujo diagnóstico é alergia à proteína do leite da vaca. Simples assim? Parece que foi. Cortei leite e derivados e voltei a dormir a noite e boa parte da irritação de dia cessou.

Parece, assim espero, que esse foi o desfecho da história. Não foi fácil, mas passou. Talvez não precise comentar, mas fiquei bastante revoltada com o pediatra. Uma investigação um pouco mais atenta poderia ter evitado tudo isso.

Um dia conto para vocês as contradições com as quais me deparei. Tem a ver com o fato da amamentação, apesar de muito incentivada, pode ser facilmente negligenciada pelos médicos. A inserção de leite em pó nas dietas das crianças, nem sempre necessária, é mais comum do que imaginamos. Sem teorias da conspiração, a Nestlé tem forte vínculo com a SBP - Sociedade Brasileira de Pediatria - logo, os profissionais tendem a boicotar a amamentação ou simplesmente não dão o suporte e informações necessários para que as mães continuem amamentando.


Isso é conversa para um outro post...

Um abraço,

Suellen

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Dor do Choro

Eis que a minha pequena agora dorme. Foi uma briga feia de alguns minutos; dela com o soninho. Mamãe agora chora, de cansaço, de angústia...

Há uma semana não durmo direito. O padrão de sono da Livia mudou drasticamente após ter completado 3 meses. Dizia, com orgulho, quando comecei esse blog, que meu bebê dormia das 19h as 7h com apenas 2 mamadas. Hoje, ela acorda 5, 6 ou mais vezes, ora para mamar, ora para colocar a chupeta.

Outra frustração foi levá-la ao pediatra e constatarmos seu ganho de peso abaixo da média. “É preciso complementação”. Dar NAN 1, sendo que faço doação de leite? Como assim? Tem algo errado... Ela recusa meu peito depois de mamar, mas não é possível que seja desmame precoce. Sempre interpretei como se estivesse saciada e ainda acredito que não passe fome.

Suspeito, isso sim, da minha super proteção, de nunca querer vê-la chorar. Em nenhum desses 3 meses ela adormeceu sozinha. Sempre foi com mamá, com mantinha, com chiado, com balanço. Poucas vezes dei oportunidade a ela de se acalmar sozinha, mesmo que para isso ela precisasse chorar. Logo, ela não dorme quando quer, mas quando EU quero.

Ela hoje chorou, chorou muito. Peguei no colo, coloquei a chupeta, barulho de mar, balancinho... nada a acalmava. Ela chorou bastante e, firme, não chorei, mas estive junto dela o tempo todo. Espero que ela saiba que eu estava lá, presente, sem saber o que fazer, mas estive presente. No fim, dormiu.

Talvez agora seja hora dela caminhar esse passo sozinha. Mas dói tanto no coração da mãe.

Um abraço,


Suellen

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Filho de Peixe...


Quando estava grávida, criei várias expectativas quanto ao temperamento do meu bebê. Isso porque, na gestação, tendemos a visualizar um bebê ideal, obra da nossa ilusão. Mesmo não sabendo se era menino ou menina, imaginava-me tendo um filho muito tranqüilo e bonzinho. Não digo que a pequena Liv não seja tranqüila e boazinha, no entanto não é a calmaria que imaginara.

Sinal de saúde uma pessoinha tão ativa e curiosa. Esbugalha os olhões para tudo e se remexe inteira, apesar da falta de coordenação. Durante o dia precisa de muito cuidado para adormecer e assim permanecer; em outras ocasiões comentei que dorme apenas 30-45 min e acorda super disposta, sorridente. Mas chora de cansaço e resiste ao sono. É o jeitinho dela.

É o jeitinho também das mulheres da família; bisavó, avó e mãe. Agitadas, perspicazes, não se permitem estarem paradas. Minha mãe me alertou: “fique tranqüila, senão a Livia será um bebê agitado”. Receio que ela nasceu até bem calma, perante os 9 meses que passei. Foram preocupações da faculdade, dos preparativos do casamento, da chegada de um recém nascido e qualquer outro imprevisto... Não sou a pessoa mais zen do mundo, pelo contrário, então como poderia ter uma filha assim?

Há uns poucos anos sonhava em mudar o mundo, realizar grandes projetos em prol da sociedade. Agora sei que cada um faz o seu pouquinho para mudar o entorno. Meu maior projeto dorme agora em seu balancinho...

Um abraço,


Suellen

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Toda mãe tem um pouco de astronauta

Sempre ao término da semana a sensação que tenho é de missão cumprida. Cuidar sozinha de todos os fazeres de uma casa e de um bebê é tarefa de malabarismo cotidiano. Acrescente a esse dia-a-dia uma faculdade e, se tudo der certo, um trabalho, eis que, suponho, se faz uma mulher a beira de um ataque de nervos.

Refletindo sobre a nossa natureza de mãe, penso que, talvez, sejamos todas um pouco doidas. Mulheres complexas que somos por essência, a maternidade dá um quê a mais em nossos espíritos. Nos sentimos mais solitárias e por isso ansiamos conversar; falamos rapidamente pela necessidade de compartilhar o vivido. Nossas emoções estão sempre a flor da pele, seja felicidade, seja tristeza ou raiva, tudo é exacerbado. Essa loucura possibilita vivenciar o dia-a-dia sem surtar completamente.

Quem não reconhece que o mundo de mãe, principalmente de bebês, é esquizofrênico? Quantidade considerável de nós passa a maior parte do tempo dentro de casa, pois poucos passeios se mostram adequados a mães e bebês. Mal conseguimos ler um livro, ver um filme inteiro, ou um noticiário... Difícil tirar de nós comentários a cerca do mundo out side.Nos fechamos no mundo mágico de nossos bebês, gostoso, mas sem completude da realidade.

Essa realidade esquizoide tem seus estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, Ok, nós mães não somos doentes terminais e algumas de nós aceitam muito bem a nova fase, sem questionamentos. Não obstante, se tornar mãe significa a morte da liberdade como indivíduo e início de uma preocupação perpétua, que nunca nos abandonará. Tensão é um sentimento que tem me acompanhado nos últimos 3 meses. E isso tem refletido de forma negativa nos meus relacionamentos, principalmente, naqueles de convívio diário.

Devo me espelhar nos astronautas. Sempre admirei muito essa profissão, pois, cercada de um misticismo curioso, o sujeito precisa ser o mais equilibrado e centrado da Terra. Recebe treinamento árduo para ter forças físicas e psicológicas para suportar as mudanças não só de pressão e temperatura, mas do confinamento sob o qual ele é submetido. Como recompensa, vê um Universo lindo, cheio de estrelas, novos planetas e, mais importante, observa a Terra sob uma nova perspectiva. Toda beleza e aprendizado que o Universo detêm podem não ser aproveitados se esse astronauta focar apenas nos aspectos penosos do seu trabalho. Acho que toda mãe deve se espelhar nos astronautas...


Um abraço a todos que leêm,

Suellen

PS: Hoje, quero deixar um recadinho:

Marido, perdoe-me por descabelar você toda a noite com o meu cansaço e preocupações. Te amo para todo sempre. Espero que possamos nos divertir no final de semana.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Encantadora de Bebês

Estava no oitavo mês de gestação quando tive a infelicidade da recomendação do livro Encantadora de Bebês, da Tracy Hogg. Infelicidade porque esse livro foi o responsável por um período neurótico (mais ou menos 1 mês) depois do nascimento da pequena Liv.

Essa autora, babá há uns quantos anos, desenvolveu técnicas para colocar a criança numa rotina que denomina E.A.S.Y. (Eating, Activity, Sleeping, You). Em ciclos de 3 horas você deve amamentar (E), brincar (inclui troca de fralda) (A), colocar para dormir (S) e daí você teria um tempo para você (Y). Tudo com tempo de duração específico. Até aí plausível, se você está lidando com um boneco de cera e não com uma pessoa.

Assim que saí da maternidade, preocupei-me prontamente em colocar a Liv na rotina. Que bobagem! Nada dava certo. Amamentar durava bem pouquinho, dormir também... Sempre me perguntava o que EU estava fazendo errado? Por que a Livia não entrava na rotina?

Apesar de percebemos que ela utiliza estudos recentes sobre bebês, há algo peculiarmente ridículo no seu modo de lidar com crianças. Além de impor rotina a um recém nascido, relevante apenas para os pais, essa senhora, que se auto-denomina encantadora, não prevê cólicas, refluxos ou qualquer outro tipo de adversidade freqüente pela qual o bebê pode passar. Para piorar, pais e bebês ficam confinados, presos em casa, realizando uma rotina robótica. Quem é que agüenta?

Arrependo-me severamente de ter apenas tentado. Estragos foram feitos. A Liv não curte muito colo e muito menos dorme nele, nem mamando. Tem algo mais gostoso do que dar colo, para confortar e deixar aquele pequeno ser adormecer em seus braços?

Hoje, digo:

  • dê colo sim, não escute ninguém que diga que você vai acostumar mal. Essa fase passa e já já, quando ele aprender a engatinhar ou andar, nem vai gostar mais.
  • deixe mamar e dormir, essa história de associar alimentação com sono é a maior bobagem!
  • saia com seu pequeno desde cedo, ele vai adorar!
  • amamente em livre demanda, sem estabelecer horários rígidos. Amamentar deve ser um ato prazeroso e espontâneo. É mais do que alimentar, é confortar e dar carinho. Não estipule momentos para afeto.
  • cada bebê tem um temperamento... Colocá-lo num padrão pode inibir potencialidades.

Cheguei a conclusão que esse livro é mais um golpe de marketing... E muito, mas muito vendido (eu mesma comprei um exemplar, lamentavelmente)! Como diz o meu marido: “esse livro tem que ir para fogueira.”

Acima de tudo, somos mães e não encantadoras ou babás. O instinto e o amor de mãe são o que temos de mais precioso. Confie nele e faça o que VOCÊ acreditar ser melhor para o seu filho.

Um abraço!

Suellen