quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Um Parto

Eram 4h15 de uma terça-feira, 5 de julho, quando fui acordada por uma cólica. Coloquei a mão na barriga, estava dura, esticada, como já vinha sentindo ficar muitas semanas antes. Nada para se preocupar, pensei. Voltei a dormir.

Por volta das 6h percebi meu sono cortado, flashes de memória confirmavam que a dor havia continuado e que acordara várias vezes durante o sono por conta dela. Levantei pesadamente, um pouco irritada, crendo ser a bexiga cheia. Nada. Era uma contração após a outra, em intervalos bem irregulares, ora 10 minutos ora 5. “Amor, estou com dor.” Ok, normal. Quantas vezes, nessas últimas semanas, você se queixara de dor?

5 de julho. Coincidência ou obra divina o dia em que meu marido havia dito que a Livia nasceria. Cinco meses de gestação e uma conversa entre eles: “pai, vou nascer no dia 5 de julho”. Lembrei algumas vezes dessa conversa, enquanto realizava os exames do pré-natal. 38, 39, 40 semanas e lá se ia a data provável do parto. Ia se aproximando do dia 5.

“Não vou ao trabalho hoje”, ele disse. “Não há o que se preocupar”, eu disse. Ele não foi. As contrações não cessaram e fui me arrumar. Tomar banho, escovar o cabelo, vestir a melhor roupa para aquele dia gelado. Peguei as malas; minha e dela. Chegara a Hora? Até então não estava convencida. Durante o trajeto casa-hospital, realizado em 40 min, apenas duas contrações. “Ah, que perda de tempo ir ao hospital...”

Onze horas e alguns quebrados e estávamos no hospital. Exames incômodos, eletrocardiotoco de rotina para saber dos batimentos cardíacos da pequena e revelar a constância e intensidade das contrações. “É, muito provável que seja hoje, Sra. Suellen”. “Naa...”, pensei. Fui para o soro de Buscopan, ele confirmaria: se as dores passassem, iria para casa, se não, ficaria. Soro corria e fazíamos palavras cruzadas, ríamos; meu companheiro amado. Fiquei.

Duas horas da tarde, outro soro corria, agora com ocitocina para regularizar as contrações. Camisolinha bonita essa do hospital, branca, não sei porque nos dão algo para vestir em que o corpo fica tão exposto. Sala pré-parto, liguei a TV, para ver algo familiar deixei no Discovery H&H; Esquadrão da Moda. Eu e o marido mantínhamos o bom humor, filmou-me, rimos. Mamãe ligou, chorei feito criança, pois ela não chegaria a tempo. Ela também chorou. Desligamos.

Fui perdendo o humor à medida que a sensação se tornava mais dolorosa. Ofereceram um banho que a princípio recusei, mas que depois fiquei tanto tempo que não sei dizer. O soro continuava correndo. 6cm disse o médico umas 16h30, estamos caminhando bem. A partir daí foram imagens cortadas: rompimento da bolsa, novo exame, outro banho... Por favor, tragam-me a anestesia. Minutos pareceram horas, como se partissem a minha lombar em dois.

Quanto supunha não agüentar mais: 9cm. Vamos para a sala de parto, respire devagar! Não conseguia. Não empurre! Não conseguia. Lutei para não abrir o berreiro na maca, pelos corredores do hospital. Além da dor, lembro de ter sentido imensa vergonha pelo que já gritara. Não notei a ausência do meu marido.

Sentaram-me na cama para aplicar a duplo bloqueio, anestesia que combina a raqui e a peridural. O bom humor voltou, instantaneamente! Estava tranqüila quando meu marido entrou pela porta, apesar de exausta. Deitaram-me e amarraram meus braços; colaborei, efeito zen da anestesia. Empurra-empurra, da pequena que vinha vindo. Não sei se foram 5 ou 6 empurrões. Parecia uma atleta para a qual todos dirigiam palavras de motivação: “vamos, querida, falta pouco”, “ela ta vindo, amor”, “força, força!”. Empurrava e meus olhos fechavam, achei que fosse desmaiar.

A pequena nasceu chorando e, como ela, estava a mãe.

Um abraço,

Suellen

2 comentários:

  1. Eu aqui, que quase chorei lendo o seu relato...

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  2. O papai pode afirmar que chorou bastante no dia 5 de julho. Foi bom ler seus relatos e recordar momentos que sempre serão únicos.

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